Com recordes consecutivos de temperatura e eventos climáticos extremos, surge a pergunta: estamos realmente fazendo o suficiente para enfrentar a crise climática? Por Thays Baraldi.

Em 2006, o renomado economista Nicholas Stern publicou um estudo quantificando o custo de não agirmos sobre as emissões de gases de efeito estufa. Stern alertou que, se não fossem tomadas medidas para reduzir as emissões, a concentração de gases de efeito estufa poderia dobrar até 2035, resultando em um aumento da temperatura global superior a 2°C. A longo prazo, existe mais de 50% de chance de o aumento ser superior a 5°C, o que seria extremamente perigoso, semelhante à diferença de temperatura entre a última era do gelo e o clima atual.
Em 2024, 18 anos após o estudo de Stern, segundo dados da Copernicus, gerida pela Comissão Europeia, a Terra experimentou temperaturas médias globais mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais por 11 meses consecutivos. Isso não é uma exceção, mas uma tendência crescente. Além disso, mais de 60% das áreas terrestres enfrentaram “estresse térmico forte”, com sensação térmica superior a 32°C. Em algumas regiões, como no norte da África, a sensação térmica chegou a impressionantes 59,1°C. Esses números não são apenas estatísticas; eles refletem os impactos reais e já visíveis em nosso cotidiano — de ondas de calor intensas a secas prolongadas, afetando diretamente a saúde, a agricultura e a economia global. A cada dia, a mudança climática se torna mais inescapável.
O estudo de Stern reforça um ponto crucial: é muito mais barato investir na prevenção do que lidar com as consequências de um planeta mais quente. A proposta de Stern era clara: precisamos agir agora, com políticas climáticas robustas e com investimentos substanciais em tecnologias de baixo carbono, energias renováveis e infraestrutura resiliente.
De acordo com dados da Copernicus, em 2024, as inundações repentinas causadas por precipitações intensas afetaram várias regiões, incluindo a Califórnia, o Golfo Pérsico e o leste da Espanha. Além disso, rios atmosféricos, fortes chuvas e ciclones tropicais contribuíram para grandes inundações, impactando ainda mais a infraestrutura global. O ano registrou 86 tempestades tropicais, incluindo 43 ciclones tropicais de baixa intensidade e 22 ciclones tropicais de alta intensidade, com destaque para o Ciclone Alvaro (Madagascar), a Tempestade Akarà (Brasil) e o Ciclone Lincoln (Austrália).
No Brasil, o Rio Grande do Sul sofreu uma catástrofe devido a fortes chuvas e inundações extremas, com prejuízos estimados em quase 89 bilhões de reais. Segundo o relatório publicado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e pelo Grupo Banco Mundial, em parceria com diversas entidades do Sistema das Nações Unidas, os custos foram majoritariamente absorvidos pelo setor privado, com 78% do total dos danos, afetando principalmente o comércio e a indústria. Esse evento impactou diretamente a economia e as populações locais. Na Europa, a tempestade Boris trouxe chuvas recordes e inundações para a Europa Central e Oriental, com o número de tempestades nomeadas em 2024 chegando a 50, o maior já registrado.
O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C até o final do século. No entanto, com a taxa atual de aquecimento superando os 0,2°C por década, a chance de violarmos esse limite dentro da próxima década é altíssima. Embora um ou dois anos acima de 1,5°C não signifiquem, tecnicamente, uma violação do Acordo, a tendência é preocupante.
Por mais que os líderes mundiais se reúnam em conferências como a COP e façam promessas de ação, a realidade mostra que estamos em uma corrida contra o tempo. As metas de redução de emissões e a implementação de políticas climáticas não têm sido suficientes para frear a aceleração do aquecimento. Sem mudanças mais rápidas e drásticas, o risco de ultrapassar o limite de 1,5°C é real.
Conforme Stern explica em seu relatório de 2006, esses eventos climáticos irão impactar todos os países. Contudo, os países e populações mais vulneráveis, especialmente aqueles que dependem da agricultura, serão os mais afetados pelas mudanças climáticas. Veremos cada vez mais populações em estado de calamidade, com aumento da fome, doenças e refugiados climáticos.
Não há mais tempo a perder; é necessária uma mudança nos padrões de comportamento e consumo. A transição para uma economia de baixo carbono é possível e mais econômica do que os custos de não agirmos diante disso. Segundo Stern, o custo de mitigação é de 1% do PIB global por ano, durante as próximas décadas, para implementar políticas de redução de emissões e tecnologias limpas. O custo de não agir: 20% do PIB global no futuro, devido aos danos causados pelas mudanças climáticas, caso os impactos sejam severos.
Somos parte de um sistema interconectado, e cada escolha que fazemos influencia diretamente o futuro do planeta. A preservação dos recursos naturais deve ser uma prioridade, e nossas escolhas diárias precisam refletir essa urgência.
Ações individuais, como reduzir desperdícios, adotar consumo consciente e priorizar produtos de menor pegada de carbono, têm um impacto significativo. Juntas, essas pequenas atitudes geram grandes transformações a longo prazo.
Fazer a nossa parte é mais do que responsabilidade; é demonstrar respeito pelo meio ambiente e pelas futuras gerações. Cada decisão conta, e coletivamente podemos gerar verdadeiras mudanças. De que lado você quer estar?